A Carteira, de Machado de Assis
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A Carteira
Machado de Assis
...DE REPENTE, Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar-se, apanhá-la e
guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta
de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo:
-- Olhe, se não dá por ela; perdia-a de uma vez.
-- É verdade, concordou Honório envergonhado.
Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar
amanhã uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo recheado. A
dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que advoga; mas todas as
quantias são grandes ou pequenas, segundo as circunstâncias, e as dele não podiam ser
piores. Gastos de família excessivos, a princípio por servir a parentes, e depois por agradar
à mulher, que vivia aborrecida da solidão; baile daqui, jantar dali, chapéus, leques, tanta
cousa mais, que não havia remédio senão ir descontando o futuro. Endividou-se. Começou
pelas contas de lojas e armazéns; passou aos empréstimos, duzentos a um, trezentos a outro,
quinhentos a outro, e tudo a crescer, e os bailes a darem-se, e os jantares a comerem-se, um